Por Ricardo Albenes
Falar sobre a importância da comunicação em times que atuam com agile pode parecer redundante. Ou talvez óbvio. Mas assim como o óbvio precisa ser dito, o ato de comunicar-se com clareza com os colegas de equipe deve ser reforçado, especialmente em tempos de trabalho remoto.
O Manifesto Ágil, que é ou deveria ser um guia contínuo para qualquer agilista, já deixa clara a importância da comunicação em pelo menos dois momentos. O primeiro valor que o documento apresenta é “a qualidade da interação entre as pessoas pode resolver problemas crônicos de comunicação”. Indivíduos e interações sempre devem vir antes de ferramentas e processos.
Um time bem alinhado, que conversa de forma clara e transparente, é fator primordial para o sucesso. Mas é bom deixar claro que um time alinhado não é um time homogêneo. Muito pelo contrário. A diversidade promove ganhos incomensuráveis para o desenvolvimento de projetos – em qualquer área. Para que todos tenham condições de contribuir, o espaço de fala deve ser seguro e deve respeitar as particularidades de cada um.
No livro clássico de engenharia de software e gerenciamento de projetos, “O Mítico Homem-Mês”, o autor Frederick Brooks afirma que a Torre de Babel falhou por falta de comunicação e organização. Ele também alerta que incluir mais pessoas a um projeto atrasado vai atrasá-lo ainda mais, porque requer esforços extras de comunicação (Lei de Brooks).
Como fica o “cara a cara” no trabalho remoto?
Voltando ao Manifesto Ágil, o 6º princípio elege que o “método mais eficiente e eficaz de transmitir informações para, e por dentro de um time de desenvolvimento, é através de uma conversa cara a cara”. Mas e com o trabalho remoto, como faz?
Um pouco mais de um ano em home office, creio que a maior parte dos times ágeis conseguiram encontrar uma forma mais eficiente de se comunicar. Algumas “regras” como não usar áudio para indexar melhor as conversas, usar o vídeo para não deixar que as conversas pelo chat se acumulem e ir direto ao ponto são algumas táticas relevantes, mas nenhuma delas, em minha opinião, é tão importante quanto dizer o óbvio.
Por que o óbvio precisa ser dito?
Quem nunca vivenciou uma situação constrangedora na relação profissional com alguém da equipe ou com algum cliente em que se ouviu a seguinte frase na apresentação de uma entrega: “Como você não fez isso? Estava implícito!”
Relações profissionais e comerciais naufragam muitas vezes porque falta clareza na comunicação. Na maioria das vezes, aquilo que é claro e óbvio para mim, pode não ser para o outro. É aí que entra em ação algo que torna a comunicação eficaz: “dizer o óbvio”.
Talvez essa seja a premissa mais importante em qualquer comunicação, fazer-se entender deixando claro todos os pontos, até mesmo aqueles itens que você imagina já ser do conhecimento do interlocutor. Se por acaso você pensar “não vou dizer isso, pois já é de conhecimento de todos”, cuidado! Aqui pode estar nascendo um problema!
A primeira responsabilidade com a transmissão da mensagem é do emissor, que deve ter o zelo por ela, e certificar-se que houve clareza e entendimento por parte do interlocutor. O chat está gerando ruído? Faça uma videoconferência. As informações que você passou podem não ter causado o efeito esperado? Fale novamente. E, na dúvida, diga o óbvio!
Ricardo Albenes – Coordenador de Tecnologia da TQI