Por Cristiano Oliveira
A pandemia, que já dura mais de um ano, trouxe uma reflexão geral, não só nos negócios, mas na vida. O comportamento mudou, porque passamos por situações que não fomos preparados para passar, já que estamos diante de um cenário sem precedentes. É tudo muito novo para todo mundo.
Muitos negócios que estavam em aceleração tiveram que parar tudo e se reinventar. Além disso, muitas pessoas estão passando por muitos problemas profissionais e pessoais. São muitas famílias afetadas e que vivem um momento único nos seus respectivos contextos.
Ao mesmo tempo, em todo caos existem problemas, mas também oportunidades. Vimos uma disrupção muito forte. Nunca se pediu tanta comida por meio de um aplicativo. Hoje, quem diria, todos os supermercados têm um app. O que antes era raro, se tornou padrão.
Na área de saúde, a telemedicina veio revolucionar o atendimento médico. Podemos fazer uma consulta e vários procedimentos online. Muita coisa mudou e muita coisa passou por uma digitalização. Vivemos um mundo completamente diferente daquilo que tínhamos como padrão.
Velocidade x adaptabilidade
As coisas mudam muito rápido, mas será que precisamos ser tão velozes quanto essa mudança? Hoje nós já conseguimos concluir que sermos rápidos não é algo que vai resolver nossos problemas, pois essa rapidez não nos leva necessariamente ao que realmente interessa: a adaptabilidade.
O que vale é o quanto conseguimos compreender a mudança e ajustar o percurso para atingir aquele novo objetivo. Além disso, agilidade não está vinculada só ao que nós vivemos como time. Temos diversas etapas upstream e downstream para que a gente saia de uma possibilidade de negócio até chegar ao sucesso de fato.
O time é parte de um fluxo de agilidade que inclui feedbacks, usuário, produto, validação, entre outros. Temos um time ágil, mas nós temos produtos e negócios ágeis? Todos olhamos o produto de forma a maximizar o seu valor? E esse fluxo deve ser contínuo, caso contrário, o produto morre.
Outro aspecto importante, a agilidade não está restrita à TI. Porém, usar um quadro de Kanban não significa atuar com agilidade. O importante é que haja um fluxo de valor, do qual aquele método de organização é só uma parte, seja no recrutamento, no comercial ou até para objetivos pessoais, como viagens. Sabemos que nem tudo sairá como programamos, mas damos uma cadência para o projeto.
Quebrando paradigmas
O que precisamos saber sobre paradigmas? Como eles são formados? Não existe certo e errado e eles não são os mesmos para todas as pessoas, porque estão relacionados às vivências de cada uma. Mas podemos elencar alguns temas mais gerais.
Trabalho do conhecimento – nosso dia a dia é, literalmente, para resolver problemas, que mudam a cada dia. Assim, nós lidamos com diversas variáveis e, por mais que tenhamos um arcabouço de ações, nós sempre vamos nos deparar com situações inesperadas. Nosso cérebro, portanto, deve estar preparado não para executar determinadas tarefas, mas sim para avaliar um problema, abstrair e chegar a uma solução. Então, nosso trabalho é usar nosso raciocínio e buscar insights em outros trabalhadores do conhecimento para, então, conseguir resolver o problema.
Ame o problema! – por falar em problema, outro paradigma é sobre ser apaixonado pelo que fazemos. Muitas vezes, a solução que você conseguiu criar para determinada necessidade não será útil em outro contexto. Então, precisamos olhar muito para o problema, e não se apegar à solução. E quando eu falo olhar para o problema, me refiro a destrinchar todas as suas nuances, do escopo aos envolvidos, os quais, aliás, carregam seus próprios paradigmas. Quanto mais eu sei sobre o problema, maiores são as chances de entregar uma solução adaptável àquele cenário.
Priorização – nós, como TI, acabamos passando pelo que chamamos popularmente de “pastelaria”: fritar o pastel antes de saber o recheio. Ter o contexto antes de começar é fundamental para entregar o resultado que se espera e agrada mais o cliente. Às vezes nos apegamos à máxima de que “aquilo não é o meu papel”, mas ter clareza é papel de todo mundo. Será que todos estão olhando para o mesmo ROI, por exemplo?
Planejamento contínuo – não adianta nada priorizar sem planejar. Meu objetivo é chegar até o final da estrada. Mas uma estrada muda muito conforme a distância que olhamos para ela. Não conseguimos enxergar todos os buracos do asfalto, impedimentos do trânsito e obstáculos em médio e longo prazo. Tentar planejar algo sobre o qual não temos controle algum, é planejar o caos. Por isso, o planejamento deve ser contínuo. Precisamos chegar a um meio termo para não desperdiçar tempo.
Interativo e incremental – queremos fazer, queremos entregar. Mas muitas vezes não adianta chegar a um produto final se ele não for viável. É sobre o MVP. Não adianta eu produzir um pneu se eu quero me locomover sem esforço, por exemplo. É preciso se questionar: qual problema estamos resolvendo? Aquela API que foi concluída está fazendo a diferença naquele momento?
Fatiamento – junto com o interativo e o incremental, é preciso pensar que a fatia do produto precisa entregar uma solução final que atenda o negócio como um todo. Não adianta eu querer inaugurar um bar sem ter um freezer, por exemplo.
Transparência e visibilidade – a agilidade não traz nenhuma resolução de problema. Pelo contrário. Geralmente, o que ela traz são vários problemas à tona. É difícil deixar a sujeira às claras, mas também não adianta varrer para debaixo do tapete. Em algum momento isso vai ganhar escala e, talvez, será muito tarde para resolvê-lo.
Aprenda rápido – por natureza humana, nós somos preocupados em não errar. Nossa criação no leva a crer que o erro é punitivo. Porém, o caminho com falhas é necessário para transformar falhas em aprendizado e para nos levar ao sucesso de uma maneira muito mais rápida do que se fôssemos errar só no final. Portanto, precisamos encarar o erro como necessário e, quanto antes ele vier e for resolvido, melhor. Esse é um paradigma bem difícil de quebrar porque está enraizado em nós.
Colaboração – quando se tem “o super-herói”, ficamos à mercê dele. Não sabemos o que pode acontecer amanhã se ele faltar. Quando temos um time com colaboração forte, como “Os Vingadores”, temos condições de dividir responsabilidade na resolução daquele problema. Uma hora ou outra, times que não são colaborativos vão fracassar. Aqui entra muito o propósito que vivemos. O quanto todos os envolvidos estão colaborando? Fortaleça o time, seja mais uma pessoa que pode contribuir com as outras.
Por fim, quero deixar uma provocação: questione sempre! Quando ficamos muito ocupados naquilo que estamos acostumados a fazer, nós nos esquecemos de olhar para o lado e perceber que muita coisa poderia ser aprimorada. Cuidado para não se negar a olhar algo que poderia gerar uma melhoria importante para o projeto.
Cristiano Oliveira – gerente de Tecnologia da TQI